segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Dando conicidade ao tronco do bonsai


Muito fala-se sobre dar conicidade aos bonsai visando dar melhor silhueta e similaridade a uma árvore em tamanho real. Na maioria das vezes (aliás eu particularmente não encontrei nenhum outro procedimento) indica-se a poda do ápice atual na altura de algum galho mais fino existente e o direcionamento do mesmo como novo ápice.

Esse método comprovadamente funciona, mas também existem alguns riscos como deixar uma cicatriz nada agradável aos olhos de quem observa o bonsai, além do risco de não existirem novas brotações para a formação de patamares nas alturas desejadas pelo bonsaísta.

Após muita observação, conclui que muitos bonsais estudados não possuem cicatrizes que referencie que houve alguma poda com esse intuito. Então veio a questão como fazer o mesmo?

Acredito que existam outros métodos que não conheço, pois infelizmente a arte do bonsai ainda tem muitos segredos guardados a sete chaves e não divulgados ou ensinados de forma alguma, como forma de preservar técnicas individuais, mas encontrei o meu método e vou descrevê-lo aqui. Não quero dizer com isso que seja exclusivo ou que o tenha inventado.

Apesar de restrito, pois só é possível em plantas jovens ou muito maleáveis, tem um ótimo resultado, pois como irão observar além da conicidade já citada, o método cria boa sinuosidade ao tronco e aproveitamento do antigo ápice como um novo galho de bom calibre.

A planta utilizada na demonstração é uma Acácia Caven de 2 anos de idade. Procedimento realizado em 02 de fevereiro de 2012.

Planta antes do procedimento


- 1 (um) primeiro galho, muito fino e sem desenvolvimento será podado, além de estar na axila de outro galho em melhor posição e mais desenvolvido.

- 02 (dois) segundo galho a direita da planta com bom diâmetro em relação ao tronco (considerando-se ser uma planta jovem) e com bom posicionamento, pois encontra-se na parte externa de uma das curvas do tronco.

-03 (três) terceiro galho a esquerda da planta, por ser mais fino é o candidato a tornar-se o novo ápice, porém ai esta o pulo do gato, que será demonstrado nas próximas fotos.

04 - (quatro) Ápice atual, vejam que o mesmo tem o diâmetro muito parecido por quase todo seu comprimento.

Iniciando o Procedimento

O arame foi passado desde a base da panta visando dar melhor sustentação ao mesmo, além de ser passado duplamente para dividi-lo mais acima, conforme a próxima foto.

Divisão do arame

Aqui está a diferença entre a técnica de poda e a técnica aqui utilizada. Nessa próxima foto vocês poderão ver como o galho esquerdo foi aproveitado e também o ápice anterior.


Torção e novo posicionamento
do galho e do ápice

Com uma torção em ambos o galho passa ser o novo ápice e o ápice passa a ser o novo galho lateral conferindo a planta a conicidade desejada.


Planta já aramada e podada


Ainda há um grande caminho a ser percorrido, mas o encaminhamento inicial foi dado, o mesmo procedimento poderá ser adotado em galhos que surgirem ou até mesmo em vários galhos. Fica a critério do bonsaísta qual forma deseja dar a planta e o estilo que irá seguir.
Obs: Uma pequena fita de borracha foi passada na altura da torção, pois houve uma ameaça de ruptura no local. O procedimento deve ser realizado com cuidado p/ que não haja quebra do galho, pois colocaria a perder o objetivo da técnica.

24 de fevereiro de 2012.

Olá amigos, essa semana realizei o primeiro transplante desta Acácia para um vaso maior visando seu melhor desenvolvimento.
A planta respondeu bem a estilização e poda realizada anteriormente.
Preparando o novo vaso.


Essas pedras foram selecionadas e colocadas no vaso por cima de uma cama de substrato para que por sua vez sirvam como cama para as raízes da planta. O objetivo é observar o desenvolvimento das raízes sobre elas. 

A ideia base foi tirada da observação de algumas plantas na natureza que se desenvolvem totalmente em locais onde o solo tem muitas pedras e a camada de terra sobre as raízes é muito fina, formando assim longas e grossas raízes para que a planta possa sustentar-se de pé. 

Isso pode ser observado em beiras de barrancos principalmente após alguns leves desbarrancamentos. Moro em um local próximo a um ponto turístico conhecido como Pico do Jaraguá, em São Paulo-SP e ao caminhar pelas trilhas desse parque essa observação pode ser feita com certa facilidade.

Essa observação também pode ser feita no substrato de bonsais tailandeses.



Acomodação das raízes sobre as pedras. Procurei deixá-las da forma mais radial possível para que desenvolvam um bom nebari.


Após acomodadas fiz a cobertura com mais substrato e passei uma amarração em quatro pontos para que a planta não sofra movimentos bruscos até que tenha boa fixação.
Voltarei a postar novas fotos conforme o desenvolvimento da planta.



Essa planta foi doada a bonsaísta Regina Suzuki no ano de 2013.

Um comentário:

  1. Muito boa a dica. Assim é possível engrossar o tronco e criar a conicidade necessária à planta.
    Concordo com você quando diz que algumas técnicas aplicadas ao bonsai são guardadas a sete chaves. Acho pura besteira, pois quem procede assim está emperrando o desenvolvimento de uma arte que é bonita e precisa amadurecer ainda mais no Brasil. O conhecimento deve ser compartilhado com alegria, e não se deve fazer segredinhos de uma nova técnica aplicada. Pura besteira mesmo.

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