Realizando um alporque de maneira prática
A alporquia é uma das maneiras mais indicadas para a obtenção de uma muda já com certo desenvolvimento para a realização do bonsai.
Entre os motivos que fazem desta prática uma das melhores para obtenção de boas mudas estão:
● Obter plantas com troncos mais grossos e próximos do que desejamos para nossos projetos.
● Possibilidade de escolher galhos que tenham formas mais interessantes e com mais possibilidades de trabalho, ou seja, dentre vários galhos de uma árvore adulta fica mais fácil escolher um que mais se adequa a nosso projeto ou mesmo ao visualizar um galho possamos nele projetar um futuro bonsai.
● Obter mudas de plantas com maior dificuldade de germinação de sementes ou mesmo plantas que tenham maior dificuldade de se adaptar ao nosso clima com a obtenção de muda através do alporque de uma planta já adaptada.
● Aproveitamento de galhos que seriam simplesmente podados e descartados.
● Correção de erros na base do tronco de plantas que são adquiridas para projetos.
● Obtenção de mudas de plantas nativas sem a necessidade de retirá-las da natureza – prática não aprovada se pensarmos na sustentabilidade – onde possa haver poucas plantas da espécie desejada o que poderia ocasionar um desequilíbrio da flora e fauna local.
Nota 1: Para a obtenção de mudas com intuito comercial essa não é a maneira mais produtiva.
Nota 2: Nem todas as espécies são suscetíveis ao alporque e outras requerem um tempo relativamente longo para que o alporque possa ser retirado, pesquise a respeito da espécie desejada. Lembre-se – “Bonsai é a arte da paciência”, portanto se sua escolha for por uma espécie que se enquadre na segunda opção, vale a pena aguardar o período de resposta da planta.
No caso apresentado nessa matéria estou realizando o alporque baseado no penúltimo motivo dessa lista.
A espécie utilizada na matéria é uma bougainville glabra Var. Alba (Primavera Branca).
Planta comprada em viveiro
Veja que a planta tem boa sinuosidade, porém muitos galhos se cruzam, portanto a primeira intervenção foi à retirada de alguns galhos, entre eles esse que aparece logo a frente planta a meia altura.
Galho a ser retirado
Após a retirada do galho na foto acima e alguns outros que se encontravam secos, a planta foi deixada em local a meia sombra para que se recuperasse do transplante e das podas realizadas.
Observe que apesar da boa sinuosidade natural do tronco existem dois defeitos que impedem um bom projeto, conforme indicado na foto abaixo: O tronco se divide em duas partes, uma acima do calombo indicado pela flecha vermelha e outra abaixo dele onde a planta não tem boa conicidade deixando o visual em total desarmonia.
Calombo e falta de conicidade na base do tronco
O que fazer? Deixar o projeto de lado e desistir? Não, nesse caso a solução encontrada foi à realização do alporque na altura do calombo que divide a planta.
Alporque para correção
Note a diferença, veja como a planta ficou mais harmoniosa e com boa conicidade da base ao ápice.
Agora irei detalhar através de fotos e textos como foi realizado o alporque acima.
Realizando o Alporque
Muitos têm dificuldade em realizar esse procedimento. Eu mesmo fiz várias experiências até encontrar uma maneira mais prática e simples.
Além das dúvidas de como realizar o corte do anel na altura em que se deseja obter uma nova planta, existe a dificuldade em como proceder com a colocação do musgo ou material escolhido em volta do anel para o novo enraizamento.
Realmente é um procedimento que cria certa dificuldade, principalmente dependendo do galho escolhido (posição do mesmo) e porque na maioria das vezes estamos sozinhos para realizar o procedimento. Fica difícil posicionar o substrato escolhido (principalmente se for areia ou serragem), enrolar o saco plástico, amarrar, colocar o plástico preto em volta do alporque,...
Nota 3: O plástico de cor preta ou escuro é necessário, pois as raízes são fotossensíveis e a claridade da luz solar cria inibição em seu aparecimento.
Materiais necessários:
- Garrafa Pet transparente (pode ser usado garrafão de água mineral caso o galho/tronco seja muito grosso)
- Estilete
- Musgo Esfagno (sphagnum) - Opções: Areia Grossa ou Serragem
- Plástico preto ou escuro
- Fitilho ou barbante
- Enraizador
Corte a ponta da garrafa procurando fazer o corte com o diâmetro aproximado do galho ou tronco em que será realizado o alporque.
Gargalo (tampa da garrafa)
Faça um segundo corte na garrafa de aproximadamente 12 cm formando uma espécie de vaso e um corte de baixo acima na lateral da garrafa para que possa passá-la pelo tronco ou galho. A garrafa deve ser transparente para que você possa vez ou outra retirar o plástico que a envolverá e visualizar o aparecimento de raízes.
Faça o corte do anel em volta do tronco ou galho de forma a chegar à madeira verde e dura abaixo da casca.
Corte em forma de anel
Faça furos ao longo do corte lateral e use-os para amarrar e fechar o vaso/pet. Caso o corte inferior fique folgado corte uma tira de plástico e enrole em volta do tronco até obter o diâmetro do corte da garrafa. Preencha com musgo (areia ou serragem).
Nota 4: O musgo pode ser deixado de molho no enraizador ou ser molhado após o conjunto ser colocado no lugar (prefiro a segunda opção, pois fica mais fácil trabalhar com o musgo).
Depois de colocado o musgo e tê-lo molhado coloque um pedaço de plástico preto por cima para ajudar a manter a umidade.
Envolva todo o conjunto com plástico preto ou escuro e amarre para que o plástico não se solte com o vento ou chuva. Na primeira semana regue com solução enraizadora e depois pelo menos uma vez por semana regue novamente o musgo com solução enraizadora (uso para isso uma seringa com agulha p/ não necessitar retirar o plástico) e faça as regas normais no vaso principal da planta. Quando regar deixe escorrer pelo tronco ou galho parte da água para que esta penetre no conjunto mantendo a umidade.
Vez ou outra retire o plástico para verificar a quantidade de raízes emitidas.
No caso desta bougainville o alporque foi deixado por quarenta dias, porém este prazo pode variar de acordo com a espécie e época do ano.
Após verificar a quantidade de raízes formadas e certificar-se que estão em quantidade suficiente para sustentar a nova planta, inicie a retirada do alporque.
Inicie a retirada do musgo com muito cuidado tendo em mãos um hashi ou pinça para auxiliá-lo nessa função. O hashi se torna necessário devido à delicadeza desse processo, as raízes são muito frágeis nesse período, portanto tome todo cuidado e faça o trabalho com calma e paciência – lembre-se, por estarem envolvidas em musgo, fica mais difícil à visualização das raízes mais finas e é possível que se quebrem -. Nesse caso a areia grossa ou serragem se torna mais fácil, porém se usar um desses elementos lembre-se que são mais pesados e devem ser bem apoiados após retirar o vaso/pet para que não se quebrem em torrões e com isso quebrem um grande número de raízes.
Após retirar o musgo (não é necessário retirá-lo por completo, nesse caso o fiz para dar uma melhor visualização nas fotos) segure as raízes de forma delicada formando uma espécie de copo com a mão para que possa levantá-las e protegê-las deixando o local onde será o corte bem visível e para que não corra o risco de cortá-las junto.
Inicie o corte. Use para isso uma serra própria para poda.
Não se esqueça de deixar já o vaso para o qual irá transplantar a nova planta e o substrato a ser utilizado pronto visando não deixar as raízes expostas por mais tempo do que o necessário.
Passe um produto selante no corte realizado, para evitar o apodrecimento desta base. No caso acima utilizei um produto vendido comercialmente como asfalto frio, utilizado para impermeabilização de lajes.
Nota 5: É a primeira vez que utilizo esse produto, portanto não posso mencionar quanto a sua eficácia.
Corte selado
Coloque uma camada de substrato sobre o vaso de treinamento.
Posicione a planta procurando deixar as raízes da forma mais radial possível possibilitando assim a formação de um ótimo nebari de forma estrelar. Com mesmo hashi utilizado para a retirada do musgo ajeite as raízes.
Complete o vaso cobrindo totalmente as raízes. Como as raízes são extremamente frágeis, você não terá como ancorar a planta com arames presos ao fundo vaso, então ancore nas laterais do vaso assim como na imagem, pode-se utilizar fio de nylon, barbante, fitilho ou outro material a sua escolha. Costumo proteger os locais onde são amarrados os fios na planta com pedaços de couro ou algo semelhante.
Raízes cobertas e planta ancorada
Não se preocupe se a princípio a planta não ficar exatamente na posição desejada, pois você poderá corrigir isso quando realizar o próximo reenvase. Não tente corrigir agora, pois ocasionará danos as raízes.
Espero que tenham gostado da matéria e que possa ser útil aos amigos bonsaítas.
Fotos e texto: Donegá
Muito bm, vou tentar brigado.
ResponderExcluirmuito bem explicado, o mais detalhado e instrutivo que vi, muito obrigado por compartilhar seu conhecimento com quem precisa e parabens.
ResponderExcluirExcelente trabalho e capricho. Deus te ilumina com a arte!
ResponderExcluirÓtimo tutorial. Vou tentar.
ResponderExcluirRui Santos.
03/11/2014.
Valeu Rui, espero que ajude.
Excluirobrigado abençoado gostei muito das explicaçoes
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