quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Como e porque realizar um Alporque


Realizando um alporque de maneira prática

A alporquia é uma das maneiras mais indicadas para a obtenção de uma muda já com certo desenvolvimento para a realização do bonsai.
Entre os motivos que fazem desta prática uma das melhores para obtenção de boas mudas estão:
Obter plantas com troncos mais grossos e próximos do que desejamos para nossos projetos.
Possibilidade de escolher galhos que tenham formas mais interessantes e com mais possibilidades de trabalho, ou seja, dentre vários galhos de uma árvore adulta fica mais fácil escolher um que mais se adequa a nosso projeto ou mesmo ao visualizar um galho possamos nele projetar um futuro bonsai.
Obter mudas de plantas com maior dificuldade de germinação de sementes ou mesmo plantas que tenham maior dificuldade de se adaptar ao nosso clima com a obtenção de muda através do alporque de uma planta já adaptada.
Aproveitamento de galhos que seriam simplesmente podados e descartados.
Correção de erros na base do tronco de plantas que são adquiridas para projetos.
Obtenção de mudas de plantas nativas sem a necessidade de retirá-las da natureza – prática não aprovada se pensarmos na sustentabilidade – onde possa haver poucas plantas da espécie desejada o que poderia ocasionar um desequilíbrio da flora e fauna local.

Nota 1: Para a obtenção de mudas com intuito comercial essa não é a maneira mais produtiva.
Nota 2: Nem todas as espécies são suscetíveis ao alporque e outras requerem um tempo relativamente longo para que o alporque possa ser retirado, pesquise a respeito da espécie desejada. Lembre-se – “Bonsai é a arte da paciência”, portanto se sua escolha for por uma espécie que se enquadre na segunda opção, vale a pena aguardar o período de resposta da planta.

No caso apresentado nessa matéria estou realizando o alporque baseado no penúltimo motivo dessa lista.

A espécie utilizada na matéria é uma bougainville glabra Var. Alba (Primavera Branca).

                                                                        Planta comprada em viveiro

Veja que a planta tem boa sinuosidade, porém muitos galhos se cruzam, portanto a primeira intervenção foi à retirada de alguns galhos, entre eles esse que aparece logo a frente planta a meia altura.

 
                                                                             Galho a ser retirado

Após a retirada do galho na foto acima e alguns outros que se encontravam secos, a planta foi deixada em local a meia sombra para que se recuperasse do transplante e das podas realizadas.




Observe que apesar da boa sinuosidade natural do tronco existem dois defeitos que impedem um bom projeto, conforme indicado na foto abaixo: O tronco se divide em duas partes, uma acima do calombo indicado pela flecha vermelha e outra abaixo dele onde a planta não tem boa conicidade deixando o visual em total desarmonia.

                                                    Calombo e falta de conicidade na base do tronco

O que fazer? Deixar o projeto de lado e desistir? Não, nesse caso a solução encontrada foi à realização do alporque na altura do calombo que divide a planta.

                                                                           Alporque para correção

Note a diferença, veja como a planta ficou mais harmoniosa e com boa conicidade da base ao ápice.
Agora irei detalhar através de fotos e textos como foi realizado o alporque acima.


Realizando o Alporque
Muitos têm dificuldade em realizar esse procedimento. Eu mesmo fiz várias experiências até encontrar uma maneira mais prática e simples.
Além das dúvidas de como realizar o corte do anel na altura em que se deseja obter uma nova planta, existe a dificuldade em como proceder com a colocação do musgo ou material escolhido em volta do anel para o novo enraizamento.
Realmente é um procedimento que cria certa dificuldade, principalmente dependendo do galho escolhido (posição do mesmo) e porque na maioria das vezes estamos sozinhos para realizar o procedimento. Fica difícil posicionar o substrato escolhido (principalmente se for areia ou serragem), enrolar o saco plástico, amarrar, colocar o plástico preto em volta do alporque,...

Nota 3: O plástico de cor preta ou escuro é necessário, pois as raízes são fotossensíveis e a claridade da luz solar cria inibição em seu aparecimento.

Materiais necessários:
- Garrafa Pet transparente (pode ser usado garrafão de água mineral caso o galho/tronco seja muito grosso)
- Estilete
- Musgo Esfagno (sphagnum) - Opções: Areia Grossa ou Serragem
- Plástico preto ou escuro
- Fitilho ou barbante
- Enraizador

Corte a ponta da garrafa procurando fazer o corte com o diâmetro aproximado do galho ou tronco em que será realizado o alporque.

                                                      Gargalo (tampa da garrafa)

Faça um segundo corte na garrafa de aproximadamente 12 cm formando uma espécie de vaso e um corte de baixo acima na lateral da garrafa para que possa passá-la pelo tronco ou galho. A garrafa deve ser transparente para que você possa vez ou outra retirar o plástico que a envolverá e visualizar o aparecimento de raízes.
Faça o corte do anel em volta do tronco ou galho de forma a chegar à madeira verde e dura abaixo da casca.

                                                                          Corte em forma de anel


Faça furos ao longo do corte lateral e use-os para amarrar e fechar o vaso/pet. Caso o corte inferior fique folgado corte uma tira de plástico e enrole em volta do tronco até obter o diâmetro do corte da garrafa. Preencha com musgo (areia ou serragem). 

Nota 4: O musgo pode ser deixado de molho no enraizador ou ser molhado após o conjunto ser colocado no lugar (prefiro a segunda opção, pois fica mais fácil trabalhar com o musgo). 



Depois de colocado o musgo e tê-lo molhado coloque um pedaço de plástico preto por cima para ajudar a manter a umidade.

                                                                                          Plástico tamponador

Envolva todo o conjunto com plástico preto ou escuro e amarre para que o plástico não se solte com o vento ou chuva. Na primeira semana regue com solução enraizadora e depois pelo menos uma vez por semana regue novamente o musgo com solução enraizadora (uso para isso uma seringa com agulha p/ não necessitar retirar o plástico) e faça as regas normais no vaso principal da planta. Quando regar deixe escorrer pelo tronco ou galho parte da água para que esta penetre no conjunto mantendo a umidade.

                                                                 Conjunto pronto e envolvido com plástico preto

Vez ou outra retire o plástico para verificar a quantidade de raízes emitidas.

                                                                                     Novas raízes – Vista lateral

                                                                                   Novas raízes – Vista superior


No caso desta bougainville o alporque foi deixado por quarenta dias, porém este prazo pode variar de acordo com a espécie e época do ano.
Após verificar a quantidade de raízes formadas e certificar-se que estão em quantidade suficiente para sustentar a nova planta, inicie a retirada do alporque.

                                                                                            Retirando o vaso/pet

                                                                                     Conjunto já sem o vaso/pet

Inicie a retirada do musgo com muito cuidado tendo em mãos um hashi ou pinça para auxiliá-lo nessa função. O hashi se torna necessário devido à delicadeza desse processo, as raízes são muito frágeis nesse período, portanto tome todo cuidado e faça o trabalho com calma e paciência – lembre-se, por estarem envolvidas em musgo, fica mais difícil à visualização das raízes mais finas e é possível que se quebrem -. Nesse caso a areia grossa ou serragem se torna mais fácil, porém se usar um desses elementos lembre-se que são mais pesados e devem ser bem apoiados após retirar o vaso/pet para que não se quebrem em torrões e com isso quebrem um grande número de raízes.

                                                                                 Retirando o musgo com pinça

                                                             Terminando a retirada do musgo com hashi de metal

                                                                                   Trabalho de limpeza realizado


Após retirar o musgo (não é necessário retirá-lo por completo, nesse caso o fiz para dar uma melhor visualização nas fotos) segure as raízes de forma delicada formando uma espécie de copo com a mão para que possa levantá-las e protegê-las deixando o local onde será o corte bem visível e para que não corra o risco de cortá-las junto.

                                                                                    Raízes elevadas e protegidas


Inicie o corte. Use para isso uma serra própria para poda.

                                                                                               Processo de corte


                                                                                              Processo terminado

 
Não se esqueça de deixar já o vaso para o qual irá transplantar a nova planta e o substrato a ser utilizado pronto visando não deixar as raízes expostas por mais tempo do que o necessário.
Passe um produto selante no corte realizado, para evitar o apodrecimento desta base. No caso acima utilizei um produto vendido comercialmente como asfalto frio, utilizado para impermeabilização de lajes. 

Nota 5: É a primeira vez que utilizo esse produto, portanto não posso mencionar quanto a sua eficácia.


                                                                                     Corte selado


Coloque uma camada de substrato sobre o vaso de treinamento.
Posicione a planta procurando deixar as raízes da forma mais radial possível possibilitando assim a formação de um ótimo nebari de forma estrelar. Com mesmo hashi utilizado para a retirada do musgo ajeite as raízes.

                                                       Raízes posicionadas de forma radial (tipo raios de bicicleta)
 

Complete o vaso cobrindo totalmente as raízes. Como as raízes são extremamente frágeis, você não terá como ancorar a planta com arames presos ao fundo vaso, então ancore nas laterais do vaso assim como na imagem, pode-se utilizar fio de nylon, barbante, fitilho ou outro material a sua escolha. Costumo proteger os locais onde são amarrados os fios na planta com pedaços de couro ou algo semelhante.



                                                                Raízes cobertas e planta ancorada


Não se preocupe se a princípio a planta não ficar exatamente na posição desejada, pois você poderá corrigir isso quando realizar o próximo reenvase. Não tente corrigir agora, pois ocasionará danos as raízes.

                                                                                         Trabalho finalizado



 Espero que tenham gostado da matéria e que possa ser útil aos amigos bonsaítas.

Fotos e texto: Donegá

6 comentários:

  1. muito bem explicado, o mais detalhado e instrutivo que vi, muito obrigado por compartilhar seu conhecimento com quem precisa e parabens.

    ResponderExcluir
  2. Excelente trabalho e capricho. Deus te ilumina com a arte!

    ResponderExcluir
  3. Ótimo tutorial. Vou tentar.

    Rui Santos.
    03/11/2014.

    ResponderExcluir
  4. obrigado abençoado gostei muito das explicaçoes


    ResponderExcluir

Deixe aqui seu comentário: